Uma história divertida e marcante
sobre a pobreza e a religiosidade.
Nome do
livro: Auto da compadecida
“È verdade que eles praticaram atos vergonhosos, mas é
preciso levar em conta a pobre e triste condição do homem. A carne implica
essas coisas turvas e mesquinhas. Quase tudo o que eles faziam era por medo. Eu
conheço isso, porque convivi com os homens: Começam com medo, coitados, e
terminam por fazer o que não presta, quase sem querer. È medo. Medo da morte,
do sofrimento, medo da fome e medo da solidão” Pág 165.
O autor Ariano Suassuna possui uma linguagem que representa
muito da cultura Nordestina Brasileira, seus livros como no caso de auto da
compadecida, seguem uma linha de narrativa popular, semelhante à literatura de
cordel, simples, fácil de ser interpretada, e com personagens muito Brasileiros
como no caso de outras obras do autor do mesmo estilo como o rico avarento e o
santo e a porca. Podemos observar nesse livro as mazelas do ser humano pobre,
desprevenido, que vive a vida do jeito que pode e faz de tudo para sobreviver,
é o caso de Chicó e João Grilo, pobres que por serem pressionados e sofrerem
abusos dos patrões encontram na mentira e nas tramoias sua forma de
sobrevivência, assim acontece com os demais personagens, cada um com seu pecado,
a luxúria da mulher do padeiro, a avareza do padre e do bispo, a ganancia e
sede de vingança de Severino, seres humanos comuns de uma pequena cidade que
fazem de tudo para viverem tirando proveito de algo.
A história aborda a realidade de uma cidade pequena, a falsa
moralidade é mostrada através dos interesses materiais do padre e do bispo, e o
domínio da cidade pelo malfeitor Severino, João Grilo e Chicó vivem inventado
histórias para se livrarem de confusões, porém acabam se dando mal ainda mais,
a questão religiosa é um dos pontos fortes da narrativa, representando no livro
muito da personalidade do autor que era católico, assim quando os personagens
morrem tem a chance de serem julgados por Jesus Cristo, Nossa Senhora e
inclusive pelo próprio diabo, de forma divertida fazemos parte do julgamento
dos personagens pelos seus pecados, repletos de elementos religiosos como: O inferno
, o céu e o purgatório, as tentações e armadilhas do demônio e o papel de Maria
como mãe e intercessora.
“Chicó - João! João! Morreu! Ai meu Deus,
morreu pobre de João Grilo! Tão amarelo, tão safado e morrer assim! Que é que
eu faço no mundo sem João? João! João! Não tem mais jeito, João Grilo morreu.
Acabou-se o Grilo mais inteligente do mundo. Cumpriu sua sentença e
encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso
estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o
que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre. Que
posso fazer agora? Somente seu enterro e rezar por sua alma. “Pág 127.
É possível entendermos no momento do julgamento que os
personagens tiveram frustrações, inseguranças e medos durante a vida,
explicando muitos dos pecados que cometeram, entre os personagens mais bem
construídos da história estão a dupla de amigos Chicó e João Grilo e suas
conversas informais e seu modo de falar totalmente característico do Nordeste, também
o personagem Severino, um homem durão, um assassino, mas que no fundo se torna
tão medroso diante do julgamento como qualquer outro , mostrando que até a mais
dura das almas possui um lado bom.
O livro nos incomoda em alguns momentos
devido a sua linguagem de peça teatral, já que foi escrito para se tornar uma
peça de teatro, dividida em três atos baseados em contos Nordestinos Literários
e com elementos de outras obras do autor, tudo é descrito a cada momento, porém
isso não chega a atrapalhar a leitura.
Em 2000 foi lançado o filme que fez um
enorme sucesso se tornando um clássico Brasileiro, seguindo seu gênero de
comédia o filme conta com ótimas atuações, de Selton Mello como Chicó, Marco
Nanini como Severino, Lima Duarte como o bispo, Denise Fraga e Diogo Vilela
como o padeiro e a esposa, além da participação especial de Fernanda Montenegro
como Nossa Senhora, filmado no Nordeste, o filme também é fiel às
representações culturais do povo Nordestino, mas é diferente do livro em alguns
momentos, possui uma quantidade maior de personagens e narrativas, outras duas
adaptações para o cinema foram feitas anteriormente.
Podemos dizer que se trata de uma obra
prima, o auto da compadecida não é somente um livro de comédia que diverte e
nos adentra a vida desses personagens tão simples, mas também nos faz refletir
sobre nossas ações, nossas atitudes e lidamos com nossos altos e baixos em
nossa luta contra o sofrimento e a pobreza.
Ariano Suassuna
Ariano Vilar Suassuna (1927-2014) nasceu no Palácio da Redenção, na cidade de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraíba, em 16 de junho de 1927. Filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna, na época, governador da Paraíba, e de Rita de Cássia Dantas Villar foi o oitavo dos nove filhos do casal. Passou os primeiros anos de sua infância na fazenda Acahuan, no município de Sousa, no sertão do Estado.Durante a Revolução de 1930, seu pai, ex-governador da Paraíba e então deputado federal, foi assassinado por motivos políticos, no Rio de Janeiro. Em 1933, a família muda-se para Taperoá, no sertão da Paraíba, onde Ariano iniciou seus estudos primários. Teve os primeiros contatos com a cultura regional assistindo as apresentações de mamulengos e os desafios de viola.
Em 1938, a família muda-se para a cidade do Recife, Pernambuco, onde Ariano entra para o Colégio Americano Batista, em regime de internato. Em 1943 ingressa no Ginásio Pernambucano, importante colégio do Recife. Sua estreia na literatura se deu nas páginas do Jornal do Comércio, em 1945, com o poema “Noturno”. Em 1946 ingressou na Faculdade de Direito do Recife, onde fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco, junto com Hermilo Borba Filho, entre outros. Em 1947, escreve sua primeira peça "Uma Mulher Vestida de Sol". No ano seguinte escreve "Cantam as Harpas de Sião". Em 1950, conclui o curso de Direito. Dedicou-se à advocacia e ao teatro. (Crédito: E-biografia).